Dedicatória no livro "Mãe, quero ser igual a você" - Divulgação
Cordel

Como a literatura de cordel contribui para o processo de alfabetização?

O cordel se mostra um instrumento pedagógico eficaz, especialmente em ensinos que valorizam a cultura local

Elisiany Leite Lopes de Souza Publicado em 07/02/2025, às 13h29

Os cordéis são um excelente aliado na educação escolar, atuando como um instrumento de resgate da identidade de uma comunidade de cultura oral, transmitida de geração para geração. Este tipo de literatura tem potencial para ser aplicada não só nas aulas de Linguagens e Códigos, mas em todas as áreas para aprimorar várias competências, particularmente as de leitura e escrita.

Para os pequenos que estão aprendendo a ler, os versos rimados e a sonoridade do cordel tornam o estudo bastante prazeroso, contribuindo para o desenvolvimento de uma leitura fluente. A cadência e a repetição de certos versos auxiliam na memorização das palavras, essencial na fase de alfabetização, aproximadamente dos 6 aos 8 anos de idade.

Após o conhecimento da história, da estrutura, da leitura dos principais cordelistas, os professores podem solicitar que os estudantes criem seus próprios versos, trabalhando a escrita criativa que contribuirá para o aprendizado de novo vocabulário, de regras ortográficas e a estruturação das ideias de forma coerente e coesa.

Na educação infantil, o cordel é introduzido por meio de apresentações de fantoches, teatros, contações de histórias ou dramatizações de forma lúdica e interativa. Através dessas estratégias, o educador consegue atrair a atenção das crianças, fazendo com que elas aprendam de forma divertida, sem cair no tradicionalismo.

O cordel aborda temas como histórias do cotidiano, folclore e tradições do povo, que incentiva as crianças e jovens a conhecerem e a valorizarem a cultura popular, preservando-a e fortalecendo a identidade do Brasil, além de reconhecerem a diversidade abundante presente nas diversas regiões.

Se voltarmos ao passado, Leandro Gomes de Barros, nascido na Paraíba em 1865, é considerado o "pai da literatura de cordel". Carlos Drummond de Andrade o chamou de "príncipe dos poetas". Patativa do Assaré, meu conterrâneo do Ceará, nasceu em 1909 em Assaré. Antônio Gonçalves da Silva era o seu nome de nascimento. A maioria dos seus poemas retratava a condição social do país. Luiz Gonzaga, cantor e compositor, o imortalizou com o poema "A Triste Partida", em 1964. Os seus livros foram adaptados para diversas línguas e os seus poemas foram estudados na Universidade de Sorbonne, na França, no curso de Literatura Popular Universal.

Inspirados por grandes nomes como este, que autores contemporâneos apostam em projetos que reafirmem a potencialidade dos cordéis - principalmente em sala de aula – e a sua relevância cultural para o povo brasileiro. No livro “Mãe, quero ser igual a você”, busco resgatar a literatura de cordel em sua essência, abordando a questão dos vínculos familiares e a vocação infantil. Além disso, presto uma singela homenagem a grandes nomes da literatura nordestina, como Patativa do Assaré, José de Alencar e Rachel de Queiroz. É de extrema importância que nossas crianças conheçam e valorizem a nossa riqueza cultural.

Capa de "Mãe, quero ser igual a você" - Divulgação

 

Por tudo isso e a partir de experiências em sala de aula, julgo ser crucial a utilização de cordéis nas escolas brasileiras, em todas as regiões. Além de ser extremamente didático, é possível evidenciar os variados dialetos das regiões, quebrando o preconceito linguístico de que não existe apenas um "falar correto". A linguagem é rica e deve ser explorada em vários contextos formais ou informais.

*Elisiany Leite Lopes de Souza é professora, escritora e jornalista, com mestrado em Linguística Aplicada, é professora de educação infantil no Ceará e autora do livro infantil Mãe, quero ser igual a você.

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