Até o século 19, mal havia brinquedos; a indústria é um retrato do desenvolvimento do país
Marcus Lopes Publicado em 01/09/2020, às 13h12 - Atualizado às 13h12
Até meados do século 19, as crianças brasileiras tinham poucos brinquedos, ou nenhum. Durante o Império, meninos e meninas que pertenciam a famílias abastadas podiam contar com produtos europeus, caríssimos e raros. As demais tinham de se virar com o que havia à mão. Muitas vezes, construíam seus próprios objetos. Um deles era a peteca, de herança indígena e um dos primeiros brinquedos genuinamente brasileiros.
A situação só começou a mudar após a Revolução Industrial, quando surgiram as primeiras fábricas de brinquedos na Inglaterra, Alemanha e França. "Eles usavam muitos materiais da época, como a folha de flandres, para fabricar carrinhos e carruagens", explica o empresário Flavio Pacheco. Dono de uma coleção de 10 mil brinquedos, Pacheco lembra que parte da produção europeia era exportada para outros países, entre eles o Brasil.
Assim chegaram as primeiras bonecas de porcelana, trenzinhos de lata e soldadinhos de chumbo. Mas a posse deles permaneceu um privilégio de poucos. "Apenas a classe alta tinha acesso aos importados", diz Pacheco. A produção nacional começou com a chegada dos imigrantes europeus, entre o final do século 19 e início do século 20.
Eram pequenas fábricas de produtos artesanais e grande parte deles reproduzia objetos da vida adulta. "Os brinquedos eram uma maneira de 'adestrar' a criança para as profissões que elas iriam exercer no futuro", diz a historiadora Ludmila Érica Cambusano de Souza. Para os meninos, eram fabricados pequenos jogos de ferramentas, caldeirinhas de fábricas e trenzinhos. Para as meninas, objetos que a preparassem para a futura vida doméstica - bonecas, panelinhas e fogões.
Fabricação brasileira
Durante a Primeira Guerra, a dificuldade para a importação de produtos europeus alavancou diversos setores da indústria nacional, entre eles o de brinquedos. Apenas em São Paulo, nas primeiras décadas do século 20, havia perto de 80 pequenas fábricas de brinquedos.
Nessa época, duas se destacaram: a Metalma, de 1931, e a Estrella, de 1937. A primeira era uma divisão das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM), e a principal matéria-prima eram as sobras das folhas de flandres utilizadas para a fabricação de latas da indústria alimentícia.
A Estrella (que depois se tornaria Estrela) se tornaria uma das gigantes do setor e uma das líderes do mercado nacional. Entre eles, ícones como a boneca Susi e o Banco Imobiliário, lançado no mercado em 1944 como a versão brasileira do norte-americano Monopoly.
Os brinquedos de lata e de plástico - material que começou a ser utilizado nos anos 50 - tinham muito a ver com o próprio momento econômico vivido no país. "O grande desenvolvimento da indústria automobilística a partir do governo de Juscelino Kubitschek incentivou a produção de carrinhos e ônibus de lata, e provocou um certo declínio dos trenzinhos elétricos", diz Ludmila, autora da tese de mestrado A Seção de Brinquedos da Metalúrgica Matarazzo S.A.
A partir dos anos 90, a invasão de produtos chineses e as vantagens cambiais para os importados com a queda do dólar provocaram um baque na indústria brasileira. Muitas empresas tradicionais fecharam e outras perderam mercado. Lentamente, a indústria reagiu e reconquistou seu espaço, apoiado por medidas como a desoneração dos impostos, variação cambial e repressão ao contrabando, além da criatividade na hora de lançar novas linhas.
1. Peteca
A peteca é considerada um brinquedo 100% brasileiro. Quando os portugueses desembarcaram no litoral brasileiro, no século 16, chamou a atenção uma trouxinha de pedras embrulhadas com folhas com que os índios brincavam e chamavam de peteka - bater com a mão em tupi. Nos Jogos Olímpicos de 1920, em Antuérpia, na Bélgica, integrantes da delegação brasileira levaram uma peteca na bagagem e ficaram brincando com o objeto nos intervalos dos jogos.
2. Avião Metalma
A Metalúrgica Matarazzo S. A. (Metalma) foi aberta em 1931 como uma divisão de brinquedos das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM). Foi uma maneira de aproveitar as sobras de folhas de flandres utilizadas na fabricação de latas. Os carrinhos, ônibus, avião, trenzinhos, carroças, panelinhas, conjuntos de cozinha e outros produtos foram os primeiros brinquedos nacionais populares.
3. Autorama
O lançamento dos primeiros autoramas ocorreu na década de 60, época que coincide com a popularização do esporte automobilístico e o gosto pela velocidade. Os autoramas sempre foram associados aos grandes pilotos brasileiros, como José Carlos Pacce, Emerson Fittipaldi, Ayrton Senna e Nelson Piquet, que ganharam versões do brinquedo.
4. Banco Imobiliário
Considerado o jogo de tabuleiro com mais tempo no mercado brasileiro sem nunca ter saído de linha, o Banco Imobiliário foi lançado em 1944 como uma versão do Monopoly norte-americano. Hoje, possui muitas versões diferentes. Uma delas é totalmente sustentável, com peças fabricadas de materiais recicláveis. Em outras, as notas de dinheiro foram substituídas por maquininhas de cartões de crédito. E a marca original passou a ser vendida no Brasil.
++Veja mais 5 brinquedos antigos na matéria completa da Aventuras na História, parceiro da Revista Recreio e Grupo Perfil
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