Descubra se o fungo Cordyceps realmente existe fora do universo 'The Last of Us', cuja trama pode ser acompanhada nos games e na TV
Publicado em 10/04/2025, às 12h55 - Atualizado às 17h04
Tanto no jogo da Naughty Dog quanto na série da HBO, em 'The Last of Us' os protagonistas Joel (Pedro Pascal) e Ellie (Bella Ramsey) vivem em um futuro distópico causado por uma pandemia fúngica que surgiu há vinte anos nesse universo após a mutação de um fungo chamado Cordyceps.
A história fez tanto sucesso que tem uma terceira temporada já confirmada, e uma segunda prestes a estrear na HBO e Max, visto que os novos episódios estão previstos para este domingo, 13.
A premissa do título é que a garota é a única humana que sobreviveu ao ser infectada e embarca em uma missão para poder ser usada para a criação de uma cura ou antidoto que acabaria com a infecção.
Acontece que o fungo controla o sistema nervoso dos hospedeiros e continua crescendo dentro do corpo do infectado. Além disso, aqueles que abrigam o organismo dentro de si se tornam veículos de transmissão e passam a agir de forma violenta enquanto buscam novos hospedeiros para o fungo, o qual é transmitido por meio de mordidas.
Ainda que a história seja ficcional, o criador da narrativa, Neil Druckmann, se inspirou na realidade para a criação da pandemia que quase acabou com a vida humana na Terra, já que o fungo do gênero Cordyceps realmente existe e conta com mais de 400 espécies.
A versão que serviu de base para o organismo da série é o Ophiocordyceps unilateralis, também conhecido como ‘fungo zumbi’, o qual chegou ao conhecimento de Druckmann por meio de um documentário de 2008, o 'Planet Earth' — a questão é que, diferente do jogo e da série, na natureza, o fungo se apossa do corpo de insetos.
Descoberto em 1859 pelo naturalista britânico Alfred Russel Wallace, o Ophiocordyceps unilateralis é encontrado predominantemente em florestas tropicais, como na Amazônia, já que ambientes quentes e úmidos facilitam a proliferação desse fungo.
Mais que isso, o hospedeiro ideal também vive em locais como esses. Quem é? A formiga-carpinteira (Camponotus cruentatus), encontrada na América, Europa e África, que, além de estar no lugar perfeito, ainda se alimenta de fungos.
A infecção pelo fungo dura de 2 a 5 dias nas formigas. Quando se apossa do corpo, continua crescendo dentro do organismo do inseto, o deixando com uma aparência esbranquiçada, com aspecto semelhante ao mofo, e se espalhando para fora da cabeça do animal.
Acontece que, nesse período, os esporos microscópicos do Ophiocordyceps unilateralis se espalham por dentro e por fora, além de causar paralisia nos membros do hospedeiro pela ação de neurotoxinas secretadas pelo fungo. Como resultado, a formiga fica desnorteada e sai em do formigueiro em busca de locais mais iluminados e mesmo quando morrem, acabam sendo úteis, já que servem como alimento para o fungo, como explica a biotecnologista Tainah Colombo Gomes ao Portal do Butantan.
O processo foi descrito pelo técnico sênior do Laboratório de Desenvolvimento e Inovação (LDI) Rafael Conrado ao Portal do Butantan:
“Este fungo faz com que a formiga tenha um comportamento muito específico: ao sair do formigueiro, ela se agarra a uma planta próxima e, já fixada, cresce em sua cabeça o corpo frutífero, que é o órgão reprodutor do fungo. É por onde o Cordyceps libera seus esporos, que podem infectar outras formigas ali mesmo, serem depositados no solo, ou serem levados pelo vento ou insetos para outros locais”.
Ainda que não sejam racionais, o instinto de sobrevivência das formigas faz com que elas se protejam, já que, no formigueiro, quando um animal infectado é percebido pelas operárias, este é removido para preservar a colônia.